terça-feira, 19 de novembro de 2013

SOU NEGRO

 Sou negro

 Sou negro feito o breu da noite;
 Hoje estou aqui, graças aos meus ancestrais;
 Os navios negreiros que os trouxeram no cais, hoje não aportam mais;
   Não trazemos as correntes nos pés, nem a canga no pescoço e ainda assim somos escravos dos mitos criados sobre a nossa cor;
Ser negro não ter mais as correntes que nos prendiam, é ser liberto;
Sou liberto das senzalas, não há mais correntes sem pelourinhos e nem identidade cultural;
Sou negro libertado e agora me deixem ser gente;
Devolva-nos a nossa integridade social,
Conquistamos o direito a cotas raciais, falta agora reconhecer os quilombolas; 
Ainda há quilombolas lutando pelos seus reconhecimentos e direito a propriedade;
Reconheceram Zumbi como a grande liderança contra a escravidão;
Conquistamos o dia 20 de novembro como o dia nacional da consciência negra;
Tudo isso é feito porque somos o maior gênero de raça no Brasil;
Sobre nós pesa a miséria, o afavelamento, a discriminação em postos de trabalho;
Somos a maioria negra e uma minoria ínfima em ascensão social;
Observem os  programas de televisão, em quantos deles há um negro apresentador;
Ser negro e liberto no Brasil é ser sinônimo de sofrimento e penúria;
Ser negro é ter que romper com os padrões o qual não nos enquadram;
Ser negro é saber que as condições a ti impostas, são as que diferem dos demais grupos sociais;
Ser negro é ter a sabedoria desde cedo, tem que ser o melhor naquilo que faz, caso contrário não o fará;
Ser negro é trazer consigo desde cedo, as insígnias da diferenciação, pois nos tratam com indiferença;
Ser negro é saber que olham para ti e vislumbram um atleta corredor, ou futebolista;
Ser negro é saber que entre os intelectuais se um dia chegar a ser, será o negrão;
Isso é por que  vivemos num país sem preconceito, basta alguém cometer um lapso que lá vem a maldita frase “tinha que ser negro” ou então “hoje o meu dia esta negro.”
Ainda assim sou negro, se tenho esta tonalidade de pele, é porque sou privilegiado e posso me expor ao sol;
Houve uma ocasião que os próprios negros temiam em ser negro, porque sabiam o quanto sofreriam, ai foram sofismando a nossa cor, fomos moreno, mulato, pardo, mameluco, caboclo, afrodescendente, mas eu afirmo sou negro, e não me envergonho em ser;
Não tolero que façam media com a minha cor, quando perguntam a mim eu logo me intitulo, sou negro;
Mesmo sentindo os resquícios da minha cor, trago no meu coração, o amor ao próximo, e solidarizo-me com as lutas dos gêneros e raças, pois nada pode ser tão pequinês a um povo, do que a discriminação racial;
Sou negro da cor da noite, me vejo refém dentre tantos os critérios;
Não faço parte do todo, a mim só me vem aos poucos e a amiúde;
Ainda assim não envergonho de mim, mas sim daqueles que me veem de soslaios, por que lhe falta coragem de fitarem os meus olhos;
Sou negro, rompi com as estatísticas, possuo formação superior, não possuo ficha criminal, talvez tenha registro de subversivo que a mim não é demérito algum, quando se luta pela causa da maioria, tratada por desigual;
Liberdade não se concede, liberdade não se compra, liberdade não se barganha, liberdade é conquistada através das lutas,
E assim se muda o curso da história escravagista no Brasil, entre tantas lutas, os meus ancestrais conquistaram a liberdade.
Mas a história é contada como se uma senhora, (princesa Isabel), concederá aos negros a abolição.
Quem sabe um dia alguém tenha coragem para reescrever este capitulo da história.
Permita-me parafrasear  o titulo do livro de um lutador ( Liberdade Condicional), dê que me adianta a liberdade, se ela for condicional.
Sou negro feito o breu da noite, mas tenho sonhos límpidos e áureos de suplantar o preconceito racial e, ver esse povo ter a oportunidade de fato e de direito, para demonstrar o quanto somos capazes.

Artigo escrito pelo Profº  Rosalvo Silva Filho
Formado em Ciências Físicas e Biológicas pela Faculdade Profº José a. vieira
Latus Sensus em Saúde e Meio ambiente pela Universidade de Lavras

Formação Acadêmica em Matemática pela Unioesp.

Um comentário:

  1. Liberdade não se concede, liberdade não se compra, liberdade não se barganha, liberdade é conquistada através das lutas,
    E assim se muda o curso da história escravagista no Brasil, entre tantas lutas, os meus ancestrais conquistaram a liberdade.
    Mas a história é contada como se uma senhora, (princesa Isabel), concederá aos negros a abolição.
    Quem sabe um dia alguém tenha coragem para reescrever este capitulo da história.

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